27.10.07

Nutri Verde

A medicina oficial a cada dia que passa é um elemento de difícil acesso para a maioria do povo brasileiro dado os altos custos das consultas médicas e dos remédios. Foi pensando assim que nasceu a Nutri Verde.

A Organização Mundial de Saúde estima que 80% da população mundial continua a depender de plantas medicinais para os cuidados primários de saúde. Esta situação observa-se especialmente nos países em desenvolvimento onde está concentrada a maioria da diversidade florística.

Atualmente, numa área remota do Nepal perto da fronteira com o Tibete, grupos ambientalistas trabalham com os curandeiros tradicionais e as comunidades locais, para conservar as plantas medicinais. As pessoas de Dolpa, no Nepal, têm que percorrer vários dias até chegar ao hospital mais próximo, que carece tanto de medicamentos como de pessoal médico. Assim, dependem maioritariamente das plantas medicinais disponíveis localmente.

O Brasil, por sua dimensão e variedade de ecossistemas e populações, oferece uma oportunidade única de analisar comparativamente conjuntos sócio-econômicos-ambientais com características distintas (ALVES, 2006). Nosso país possui a maior cobertura de florestas tropicais do mundo, especialmente concentrada na Região Amazônica (MMA, 2002) e uma das maiores linhas de costa (cerca de 7500 Km), apresentando uma larga diversidade de ecossistemas de domínio tropical e subtropical. Isto, aliado a sua extensão territorial, diversidade geográfica e climática, possibilita abrigar uma imensa diversidade biológica, o que faz do Brasil o principal país entre os países detentores de mega-diversidade do planeta, onde se encontram 15% a 20% da 1,5 milhão de espécies descritas na Terra.

Nosso país engloba a flora mais rica do mundo, com cerca de 55 mil espécies de plantas superiores (aproximadamente 22% do total mundial) e abriga 524 espécies de mamíferos, 1.677 de aves, 517 de anfíbios e 2.657 de peixes (LEWINSOHN & PRADO, 2002). Embora o Brasil abrigue uma das floras mais ricas do globo, 99,6% dela é desconhecida quimicamente (GOTTLIEB et al., 1996). Adicionalmente, a forte pressão antrópica que os ecossistemas vêm sofrendo tem levado à perda de extensas áreas verdes, da cultura e das tradições das comunidades que habitam estas áreas, que dependem de recursos do meio para sobreviver. Estes fatores demonstram a necessidade de continuar desenvolvendo estudos sobre Etnobotânica e Botânica Econômica no Brasil (FONSECA & SA, 1997), além da Fitoterapia.

O acúmulo de conhecimentos empíricos sobre a ação dos vegetais vem sendo transmitido desde as antigas civilizações até os dias atuais, e a utilização de plantas medicinais tornou-se uma prática generalizada na medicina popular (DORIGONI et al., 2001; MELO et al., 2007). De acordo com TRESVENZOL et al. (2006), o conhecimento sobre plantas medicinais representa muitas vezes o único recurso terapêutico de muitas comunidades e grupos étnicos. Atualmente, nas regiões mais pobres do país e até mesmo nas grandes cidades brasileiras, plantas medicinais são comercializadas em feiras livres, mercados populares e encontradas em quintais residenciais (TRESVENZOL et al., 2006). Segundo SILVA et al. (2001), esse tipo de comércio envolve várias espécies e inclui partes, produtos e subprodutos de plantas, sendo a maioria, comercializadas somente pelo nome popular.

O comércio local não está controlado, inclui plantas medicinais muitas vezes não estudadas ou ainda que não tiveram seus princípios ativos identificados para validá-las como medicamentos ou aproveitá-las adequada e economicamente. As plantas são utilizadas por uma variedade de usuários localizados em qualquer lugar do país. Algumas plantas possuem grande importância comercial como o Jaborandi (Pilocarpus spp.) e a Fava d´anta (Dimorphandra mollis) (FERREIRA, 1998). Relacionando-se ao uso e comércio de plantas medicinais, destaca-se a figura do raizeiro, pessoa já consagrada pela cultura popular, no que diz respeito ao conhecimento sobre o preparo, indicação e comercialização de plantas medicinais a qual são figuras marcantes com espaço garantido nas ruas, em feiras livres e mercados (DOURADO et al., 2005; TRESVENZOL et al., 2006).

Raizeiros comercializam plantas medicinais e preparados líquidos denominados “garrafadas”, orientando como usá-las e prepará-las para curar as mais diversas doenças, apesar de não terem, em geral, um conhecimento muito profundo sobre os verdadeiros usos dos vegetais que comercializam, seus efeitos adversos e interações medicamentosas (ARAÚJO et al., 2003). TRESVENZOL et al. (2006) ressaltam a necessidade de preservar o conhecimento popular sobre o uso medicinal das plantas que de certa forma, tem se restringido a número cada vez menor de pessoas, devido, em parte, ao avanço dos medicamentos alopáticos, ao processo de urbanização e às mudanças culturais e sociais.

Convém ressaltar que o conhecimento tradicional sobre o uso de plantas como fontes de medicamentos é importante do ponto de vista da prospecção biológica, visto que, muitas das drogas hoje usadas na medicina moderna foram descobertas a partir de seu uso na medicina popular.

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